cronica - Revolta Malê - Manoel Messias Pereira



Revolta Malê

A revolta Malê, um acontecimento histórico, considerado a maior revolta de pessoas escravizadas urbana da América Latina, fato este que ocorreu na cidade de Salvador -BA, organizada por seres humanos negros provindos do continente africanos e que tinham a cultura islâmica e, entre estes grupo nos livros escolares ou não há informações que são malinkes e conhecidos também como mandingos, haussás, fulanis conforme o livro de João José Reis "Rebelião escrava", ou Nagôs, e Yorubás conforme o Livro "As culturas negras no novo mundo"de Arthur Ramos. Com esses negros foram encontrados orações , amuletos muçulmanos, inclusive daí surgiu o que geralmente os cultos negros usam até hoje o chamado patuá.

E num sábado para domingo do dia 24 apara o dia 25 de janeiro de 1835, um grupo de pessoas escravizadas de origem africana ocupou as ruas de Salvador, portanto exatamente à 180 (cento e oitenta anos) e o fato estava todo planejado para acontecer ao amanhecer do dia 25 dia de Nossa Senhora da Guia, oportunidade em que uma grande celebração parte do ciclo  de festa do Bonfim e os seres escravizados não tinham a vigilâncias de seus senhores.

E é importante lembrar que no princípio do século XIX, aproximadamente 70% dos habitantes de Salvador eram negros e grande parte de cultura islâmica. Num momento em que havia uma expansão do islamismo e por meios pacíficos mas que defendia-se diante dos regimes políticos tradicionais que dificultavam a vida dos maometanos.


Alcorão (3:108)
"Allah não quer injustiça contra suas criaturas"

Os rebeldes foram para a rua com roupas com  só usadas na Bahia pelos adeptos do islã, e no corpo dos rebeldes que faleceram, haviam papeis com rezas e passagem do Alcorão.

O que chama atenção é que a relação com o povo árabe e os negros no Brasil, é bastante próxima basta lembrar que ao ler o livro de Gerorges Bourdoukan em seu livro capitão mouro em que ele trata de Saifudin o muçulmano construtor das fortificações do Quilombo dos Palmares.

E num dos capítulos de Bourdoukan, constam "Alhamduliláh! Alhamduliláh! Louvado seja Alláh! Glorificado. ...Saifudin, apesar de estar viajando como peregrino, tinha responsabilidades. seu nome significava "a espada do Juízo", e como tal ele não permitiria que humilhasse Alláh.

Esta informações de Bourdoukan, comenta um fato do final do século XVII, mas no livro de Reis, há seguinte informação, "O lider muçulmano Shehu Usuman dan Fodio iniciou em 1804 uma jihád, contra o regime hostil do rei Yunfa de Gorbir num conflito que produziu milhares de seres huamnos escravizados, fulanis e haussás que acabaram no entreposto de Benin. E os líderes desta jihád organizaram o califado de Sokoto, conflito que vai explicar a presença do islão na Bahia o que marcou o império de Oyo e Yorubá.

Mas no entanto os negros de cultura islâmica, observaram que Salvador tinham um grande contingente de negros, porém muitos não estavam afinados ou em sintonias com o que pensavam os haussás, tanto que chamavam os negros islamizados de "estrangeiros" e a ação de 25 de janeiro não obteve sucesso pois houve uma delação entre os negros de cultura cristã.

O negro liberto Domingos Fortunato contou a mulher Guilhermina Rosa de souza o que ele tinha visto entre vários negros uma conversa que iriam unir todos a um líder de nome Ahuna e promover um levante. para tanto Guilhermina Rosa Cruz, conta para a sua amiga Sabrina da Cruz e ambas procuram André Pinto da silveira e Antonio de souza Guimarães, que comunica ao sr. juiz do 1. distrito da Freguesia da sé José Mendes da Costa. E assim chega até outras autoridades que pede reforço para o Rio de janeiro.

A rebelião de 1835 surge no meio  a um clima político e social tumultuado, tanto na Bahia como no Brasil. Pois sabemos que da Independência do Brasil de 1822, teve resistência em Salvador, e após 1824 a constituição ainda as lutas como da Confederação Equador, a impopularidade de D. Pedro I a sua abdicação e o período de regência, quando o Imperador tinha apenas 4 anos de idade e o Brasil passou a enfrentar uma série de conflitos como Cabanagem, Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, Balaiada, Sabinada e também a Revolta Malês. que estamos tratando nesta crônica histórica.

Os líderes pretendiam tomar Salvador, fundar uma nação muçulmana e ja tinham tradição na luta pela liberdade, com a rebelião de 1807 planejado Conspiração do dia de Corpus Cristi de 28/05/1807, mas houve a revelação do esquema ou na luta de 5 de janeiro de 1809 uma rebelião bastante interessante com aliança de vários grupos étnicos negros como os hausás, jejes e nagôs.

Apalavra malê é palavra haussá tomada da língua árabe mú'allim que significa clérigo, professor , mestre entre os líderes deste movimento afro aparecem Manoel Calafate dono da casa em que reunião os rebeldes, outra resisndência é do escravizado Domingos marinho de Sá e eles tinham a intenção de libertar Pacífico Licutan, um mestre muçulmano muito estimado que estava preso

A repressão veio, no Código de 1831 no artigo 113 do Capitulo IV definia crime de insurreição, alem disto o artigo 114 estendia as penas aos homens livres que estivessem no movimento, o Estado puniu severamente a todos os envolvidos e indenizavam os senhores, ocorreram açoites, prisões, foram ainda considerados perigosos. as sentenças de prisões eram de cinco anos. Houve  pena de morte, prisões deportações

Os malês  encontraram na Bahia de 1835 como diz João Jose reis um campo fértil  tentando mudar a sociedade em favor dos africanos a Bahia que vivia uma profunda crise econômica e política, neste contexto o islã ganhou força no Brasil. 

Esta história consegui ler num livro ainda na minha adolescência, procurei mais tarde até a faculdade e não vi, esse assunto citado nos livros escolares. Somente há alguns anos que as editoras e seus autores escolares passaram a fazer a abordagem deste assunto, talvez por força da Lei 10639/2003 o que levou-me a a recordar e lembrar que estamos completando 180 anos desta história, importante como lição e exemplo de luta da comunidade negra no Brasil.




Manoel Messias Pereira

poeta, cronista, e professor
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto - SP
BRASIL.

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