Crônica - O Trabalhador Negro - Manoel Messias Pereira


O Trabalhador negro

Vivemos num pleno capitalismo em que as desigualdades são bem evidenciadas, em que se há seres humanos nos grandes conglomerados vivendo como se estivesse numa Europa falsa, revestidos de boas roupas, alimentando-se de boas comidas, com dois , três ou mais carros, e tendo um comportamento de período de belle epoque em Paris e sendo apaparicados por um conjunto de empregados nas quais a maioria não tem um salário que consegue atravessar o mês ou seja de plena miséria social, mas aprovado por um Congresso Nacional, sancionado por um presidente da República. Mas que quando observamos a atual Constituição vemos que esse salário é mentiroso, pois consta que o valor aprovado é para alimentação, lazer, moradia, despesas com energia elétrica, água, impostos, telefone  e se observarmos atentamente todos os valores pagos e a pagar verás que o orçamento doméstico é bem ineficaz para a classe trabalhadora. com isto fica nítida o processo de desigualdade pela qual vivemos.

O Brasil  desde o princípio de nossa história, quando os portugueses em 1500 vieram para tomar posse das terras de brasilis, tão conhecida de todo o povo desde o reino de D. Dinis (9/10/1291 a 7 de janeiro de 1325),chamado de o Lavrador ou de poeta, pois era amante da poesia, sendo trovador da época com canções da amor ou canções de amigos e algumas sátiras,  com sua morte  esse monarca sucedido por seu filho Afonso IV de Portugal. Que á tinha o mapa das terras brasileiras, sendo que em vários mapas como de Medici, Globo de Behain, Mapa Catalão Anônimo, o Mapa de Soleri, todos antes do ano de 1500. Mas as lutas sociais inicia-se segundo Edgar Rodrigues com a chegada destes portugueses por aqui.

Embora Edgar disse isto mas no seu livro socialismo e sindicalismo no Brasil, ele passa de princípio a tratar da questão do negro como trabalhador escravizado. Porém se observamos na obra de Francisco de Assis, "História do Brasil", ele nos informa que o Brasil foi praticamente abandonado nos primeiros anos depois da vinda de Pedro alvares Cabral. E neste período os interesses do Estado Metropolitano da burguesia mercantil de Portugal estava voltados  para as riquezas africanas como o ouro, o marfim, sal, negros (seres humanos que se tornaram mercadoria) e foram postos em navios negreiros e vieram de forma desumana a servir ao Brasil como seres escravizados. Sendo que de princípio no Brasil não foi encontrado o ouro. 

Os nativos vivam em comunidade primitiva, onde a economia era algo natural  e auto-suficiente. desconheciam o comércio não produziam excedentes comerciáveis. De princípio Portugal começam a fazer a exploração do pau-brasil conhecido pelo indígenas como ibirapitanga, mas também era conhecido no continente europeu, pois a industria de violinos, de móveis, com a presença desta madeira o governo português instituiu o estanco(monopólio estatal) sobre a sua exploração. Por um bom tempo usaram a mão de obra indígena. E em 1530 passaram a usar a mão de obra africana.

O tratamento dado ao negro assim como ao indígena foram os mais cruéis possíveis, tínhamos uma sociedade colonial escravista ruralista, bipolar, aristocrata e patriarcal.  Uma elite dominante dona de terras e escravizados, tratados como semoventes ou seja animais. Fundamentado em Antonil  era um ser servido, obedecido, e respeitado de muitos, e tinha o título de fidalgo do reino. Sua mulher era sempre subordinada, um ser inferior, e a preservação da virgindade feminina era fundamental para o casamento. Por isto a sinhazinha só saia de casa acompanhada. a mulher na verdade era um objeto e o seu casamento um negócio em troca de favores políticos.

O Senhor proprietário de terra abusava de seus trabalhadores inclusive sexualmente, impondo uma verdadeira depravação, pois esses senhores tinham uma sexualidade pervertida, e ainda usava da famosa lubricidade da raça negra. As relações entre senhores e escravizados eram carregadas de violências.  De princípio o índio teve que ser submetido as forças das armas dos brancos e usados como trabalhador escravizado e depois ficou o negro. E a questão de que o indio não adaptou-se ao trabalho escravo é mentira e falsamento ideológico que inclusive constam nos livros didáticos atuais.

O negro foi torturado física e psicologicamente. e a Igreja aplaudia e justificava na época o tráfico como um veículo para a conversão a fé cristã do negro africano. Pois com isto a Igreja recebeu dinheiro arrecadado com o tráfico negreiro, portanto escravidão também era negócio da Santa Sé. E a ideia era que o negro tinha que aceitar a escravidão como uma dádiva, pois na lógica da classe dominante, a Igreja havia cristianizado  e o homem branco havia integrado à civilização.

Houve a ideia da Inferiorização dos negros e adjetivado pelo homem branco como vadios, preguiçosos e traiçoeiros e assim o negro ia perdendo a sua identidade e submetendo a estrutura racista. E até o mulato (filho de mula) foi submetido a exploração, mantinha ele como superior aos negros retintos e muitos transformaram em capitão de matos, negava os seus próprios valores identitários .

Quando pautamos na reação negra , vemos com a sua luta , os suicídios, as guerrilhas, as insurreições, os assassinatos de feitores e senhores, e as fugas individuais e coletivas que levaram a formação dos quilombos. Junto com toda essas formas degenerativas de vida de tratamentos da elite contra os trabalhadores, temos um bando de historiadores falando em passividade faseamento ideológico e histórico Todavia não podemos confundir as lutas negras na colonia como movimento de consciência coletiva e politicamente organizados com o propósito  de colocar um ponto final no regime escravista. nem tampouco foram movimentos voltados para tomar o poder. Embora quando notamos a Revolta Malês tinha um sentido que isto pudesse ocorrer embora os negros háussas foram sim massacrados.E isto não anula as lutas no período colonial.

Com essa base historiográfica vemos o texto de Edgar Rodrigues em que ele disse que a desigualdade social tornou-se berrante não só pelas condições de miséria que vivam os trabalhadores negros, mas também pelo tratamento que dispensaram os feitores, os latifundiários, usando de má alimentação, espancamentos e o rigor do cativeiro para reprimir as rebeldias, tornaram-se odiosos os meios de sub-julgar o trabalhador, com o uso do tronco, de pés amarrados, e o pescoço imobilizados entre dois pedaços de madeiras, o suplício do viramundo que era um pequeno pedaço de ferro que prendia os pés e as mãos do ser escravizado, forçando por muitos dias , o grande toro de madeira carregado na cabeça, e é nessa toada, que tínhamos o chicote, o castigo de amputação das mamas das mulheres, a castração dos homens, a ideia de quebrar os dentes dos negros com um martelo e todas as violências possíveis ninguém tinha aonde reclamar, os negros reuniam secretamente e tinham verdadeiros repúdios por esses regimes escravagistas. E assim nasciam grupos de alforria, as associações clandestinas até para conseguir dinheiros para cotizações e comprar liberdades.

Em 1675 o trabalhador rural era praticamente todo negro, todos de origem africana e de cor preta, não se discutia e nem se falava de reforma agrária. E todas as fugas dos negros passaram a obedecer um plano previamente estabelecido e produziram frutos que puseram nu a economia colonial.

Os grande momentos da historia no Brasil, podemos falar de Canudos e a formação dos quilombos no Brasil. Entre os quilombo tivemos o sucesso de palmares, e é preciso dizer que o governo português antes de destruir Palmares usou de 18 expedições dirigidos por capitães mor de alta patentes, e engraçado que essas informações nem sempre são coladas nas aulas de historia no Brasil, por exemplo, em 1602 e 1608 houve as expediçãos de Bartolomeu Bezerra, contra palmares, em 1667 a expedição de Zenóbio Accioly de Vasconcelos, em 1672 de Antonio Jácomo Bezerra, 1673 a expedição de Cristovão Lins, em 1675 de Manuel Lopes, de 1676 Fernão Carrilho, 1679 Gonçalo Moreira, 1680 -a expedição de André dias, de 1682 Manuel lopes, 1683 Fernão Carrilho, 1684 - João de Freitas da Cunha, 1686-Fernão carrilho e depois 1692 -Domingo Jorge Velho, em 1694 -Domingos Jorge Velho e por fim 1695 - Domingo Jorge Velho usando oito mil homens, segundo o livro do jornalista Chiavenato.

Olhamos o Governo Joanino, vemos nas obras de Debret as famílias provindas da Europa sendo servidos por negros submissos de pés no chão, e depois mais tarde vemos as leis abolicionistas que são leis mentirosas,como a Lei do sexagenário, Lei do Ventre Livre, Lei Aurea  feitas para enganar a Inglaterra uma vez que aquele país é que possibilitou a vinda da família real ao Brasil. Mas quando temos o desenvolvimento, e havia um plano capitalista internacional, para ter novos consumidores e por isto deveriam acabar com o processo escravocrata.

Durante a República temos os governos indo contra toda a cultura dos afros brasileiro, por exemplo samba era coisa de vadio, capoeira era crime, terreiros as pessoas eram tidas como macumbeiras e faziam feitiços, eram chamadas pejorativamente de pessoas malandras. Em 1930 tivemos Getúlio Vargas chegando ao poder em 1931 tivemos a Frente Negra Brasileira e a aproximação desta organização com o Nazismo e o fascismo. Tivemos os jornais negros e sempre tinham como bandeira a alfabetização dos negros.

Em 1978 - Tivemos o Movimento Negro Unificado surgir contra o processo de discriminação racial e grande parte foram pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores que estava surgindo na época. e nos anos 80, vemos a aproximação dos sindicatos com os movimentos negros , visando acabar com o preconceito e a discriminação no Trabalho usando para isto os documentos assinado pelo Brasil na Organização Internacional do Trabalho a Convenção 111, E outras.

O movimento negro precisa, hoje estar sempre atualizado, pois hoje temos leis de cotas, leis educacionais, temos a necessidade de iniciar um processo que é de fazer com que as leis  como a Lei Caô, seja respeitada e cumprida pelas autoridades que quando recebe uma reclamação e não observa o corpo da lei, faz parecer que delegados juízes, promotores estão desatualizados em termos jurídicos, num desrespeito aos direitos dos negros, dos indígenas. E é comum todas as reclamações falar sobre contravenção racial, como se estivéssemos nos anos cinquenta e com a Lei Afonso Arino. Mas Já estamos no Século XXI, e o descumprimento da lie é evidente, se formos em todas as delegacias de policia veremos que nenhum delegado tem a lei Caô na sua mesa. Realmente um desrespeito total.

E esse negro trabalhador, por muito tempo teve dificuldade de trabalha por causa da pele, tem problemas de caminhar nas periferias e nas grandes cidades, tem sido vítima de violências e batidas policiais inadequadas e muitas vezes resulta em morte, tem suas religiões desrespeitadas com a intolerância religiosa, enviando pedras, botando fogos em casa e carros das pessoas que professa as religião de matriz africana.Cotas nas escolas nos concursos precisam ser respeitadas.  Além dos problemas de preconceitos, discriminação, desrespeitos. E hoje já existe uma estatística que fala que o ser humano negro ganha menos trabalhado num mesmo serviço que um ser humano branco, são diferenças, que as autoridades olha com indiferenças. E o processo de igualdade fica pelo caminho com as desigualdades.E hoje com a reforma trabalhista, temos que buscar na luta repensar todas as nossas estratégias, temos que juntar forças, para vencer essa elite desgraçada. Muito presente neste sistema capitalista, um verdadeiro horror.



Manoel Messias Pereira

cronista
membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São  Jose do Rio Preto-SP. Brasil






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