Crônica - Os segredos das coexistências - Manoel Messias Pereira



Os segredos das coexistências

Cada um de nós trazemos na vida um segredo, uma sonoridade, um olhar sobre a cidade, um olhar sobre a política. E cada um guarda o medo de coexistir.

A vida brasileira tens amostra de luta democrática de perseguição ao homens que mantinham os ideais atendendo as necessidades desta população. Os encontros as vezes se deram por meios das lutas sindicais, por meios das teorias e da práxis revolucionárias.O por meio dos medos, dos esconderijos e dos sentimentos de amor.

Eram tempos em que a guerra fria se fazia presente. e todos nós no Brasil, acreditavam que tínhamos presidentes com ideais socialistas, como o período de João Goulart e eram necessários retirá-los do poder, Eram necessários aniquilar esperanças, e para tal usavam -se as forças de seguranças, para instaurar a insegurança. 

João Goulart de princípio pensou numa Reforma de base, e essa tinha o caráter, agrário,  tributário, fiscal, educacional e ainda uma luta contra a remessa de lucros para o exterior.E essa tais reformas só foram assumidas pelo governo de Goulart depois do fracasso do Plano Trienal. E esse plano que nasceu em 1961, período em o país caminhava por veredas que levarias a uma crise econômica, politica e social na história. E Jango assume num momento em que cresci o déficit  governamental e despencavam as receitas totais das exportações, aumentavam sensivelmente a taxa da inflação e reduziam os empréstimos externos e financiamentos.E isto exigiu que o governo buscasse  soluções profundas para o impasse que passara a sociedade brasileira. e viu-se a necessidade de canalizar esforços para o aumento dos empréstimos externos, a renegociação da dívida externa, o alívio das tensões sociais, o aumento dos investimentos, a retomada do crescimento econômico e  combate a  inflação. E com isto o ministro Celso furtado apresentou em fins de 1962, um program desenvolvimentista e anti-inflacionário chamado de plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, ou Plano Trienal que deveria ser executado entre 1963 a 1965.

O objetivo básico do plano Trienal era assegurar uma taxa de crescimento de renda nacional compatível com o crescimento e a melhoria de vida na época e isto na época era um crescimento de 7% ao ano, assim como reduzir progressivamente a pressão inflacionária até 1963,  que não poderia ser superior a metade da taxa observada em 1962. e toda a engenharia era chegar a taxa de inflação de 5 a 6% ao ano. Porém e nisto encontra-se a contradição uma delas seria que o crescimento de econômico e a taxa de inflação só seria reduzida com austeridade política de contenção de gastos públicos, com a redução de crédito bancário e o congelamento dos salários. Uma medida anti-popular que afetava a classe trabalhadora com o governo popular de João Goulart. E nisto Jango contava com as forças populares contra as forças reacionárias que via-o como um comunista.E está evidenciado que não era.

Diante disto a classe trabalhadora por meios de suas entidades sindicais e a esquerda brasileira como o Comando Geral dos Trabalhadores CGT, o Pacto de Unidade - PUA, a União Nacional dos Estudantes -UNE, criticaram o governo. Mas por outro lado os novos empréstimos externos e as negociações das dívidas, tanto como credores privados como os Estados Unidos da América dependiam do sucesso do Plano Trienal. Mas o plano fracassou. e a inflação em 1963 chegou a 80%, prevendo uma taxa de 100% em 1964. E assim o aumento de salário aos trabalhadores era imediatamente neutralizado com o aumento dos preços, e a ação dos trabalhadores eram fazer novas greves, pois ninguém vive de barriga vazia.

E assim surgiu a chamada reforma de bases. E a tal remessa de lucro consistiu na definição do que era capital nacional e capital estrangeiro. Ficou estabelecido que os lucros de reinvestimentos seriam considerados capital nacional e não estrangeiros. e isto contrariou os investidores internacional e o governo estado unidense que prontamente reagiram. E essa é a base da nossa tragédia com as operações Bandeirantes, Condor e Brother Sam posta em prática no território nacional.

A imprensa como o jornal O Estado de São Paulo, assim como o jornalista Carlos Lacerda dizia que a reforma era uma manobra de Jango, houve o rompimento do Pacto populista em que o Estado mostrou a sua incapacidade de manter o papel de árbitro nos conflitos de classe. Cresce as forças populares e o radicalismo. E isto faz com que a burguesia progressista que vinha aliando ao capital monopolista assim como aquela burguesia conservadora urbana e grandes proprietários de terras sentiram-se ameaçadas. e cresceram entre os empresários a instabilidade, o momento era explosivo. Em 1963 os Udenistas declaravam a favor de uma intervenção norte americana e das forças armadas no Brasil. E assim  pressionado pela Esquerda e pela direita, João Goulart numa sexta feira  treze de março de 1964, talvez buscando a magia dos magos faz um grande comício na frente da Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil., assistido por 300 mil pessoas, e nisto ele decretava nacionalização das refinarias particulares de petróleo, assinou a reforma agrária e decretava a desapropriação das terras em torno dos grandes açudes públicos e as margens da rodovias e ferrovias, mediante a compensação previa e efetiva. Aquele comício foi um triunfo para ele.

 E seis dias depois, os conservadores, incluindo o governador de São Paulo Ademar de Barros, com empresários, militares, padres, freiras e senhoras católicas todas brancas, lideraram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, vistas por aproximadamente mais 300 mil pessoas é mostrava que São paulo era por uma derrubada de João Goulart. Os acontecimentos se precipitaram entre 25 e 27 de março de 1964, culminando com a greve dos marinheiros que tinham por trás  o Cabo Anselmo, e Jango não reprimiu e isto foi entendido como anistia aos rebeldes. E assim em 1 de abril veio a (Revolução) no dia da mentira e a verdade, era o golpe cego de 1964, que levou o país pela intranquilidade nacional.


Foi assim com um casal se conhece ele Sílvio afastando -se e ser presos e escondendo-se numa cidade ainda em crescimento.E ela Clarisse  uma menina chegada aos afazeres domésticos, mas que usava dos expedientes de entregar-se seu corpinho em busca de alguns dinheiros. diante da dificuldade de manter-se longe dos familiares e distante de tudo. Mas tudo bem discreto.

Era assim que ele resolveu mudar o nome, de Claudio para Sílvio e se fazer de atleta e a correr, para sair dali e cair na clandestinidade, mas a cidade foi quase sitiada e ali ele permaneceu. Quando ouviu uma família que vivia na sonoridade, colecionando instrumentos musicais e compondo canções barrocas, e reunia-se para uma pequena sala de concerto. Foi um momento que o revolucionário começa a encontrar formas de integrar o grupo e ao mesmo tempo esconder-se.

E neste momento um olhar, uma canção uma forma de expressão domina o ambiente, ela a garota que trabalhava na casa, apaixona-se, pelo atleta, músico e revolucionário, que mantinha em segredo a sua identidade. E ele nada sabia do passado e do presente obscuro dela, também se apaixonou.

Uma noite a policia procurava os subversivos, ele tremia tocando uma missa, num santo disfarce, enquanto ela escondia-se pois via o carro do outro do seu amante dos encontros casuais ir embora. Pois agora já não mais interessava aquele dinheiro que contemplava a renda e para quem ela depositava, ninguém sabe se era uma mãe se era alguém adoentada da família pouco importa. Ela escondia de se passado, e acreditava que o amor suportaria  todas as violências que cada um suportava na sua existência. Eram jovens que mantinham segredos ocultos, com notas ocultas, e ambos precisavam contar, ser talvez  necessários enfrentar todas as formas de repressão possível. e acreditava que pelo amor valia-se a pena. Mas aqueles que estavam acolhendo -os, precisavam entender deixá-los partir para que não sofresse num futuro parte desta repressão que o Estado implicitamente podia na sua  repressão e tortura  usá-lo como arte de cassar comunista.

Silvio e Clarice, partiram noutro dia, o Brasil ainda muito antes do presidente sair do Brasil, foi anunciado no Congresso a vacância do poder. Os jovens apaixonados ninguém nunca mais soube, talvez precisaram trocar de nome novamente, talvez refugiaram noutro país, talvez morreram como outros tantos heróis que desapareceram E assim como cada um de nós eles também tinham um segredo, uma sonoridade, um olhar sobre a cidade, um olhar sobre a política. E talvez todos ainda guardam um medo de coexistir.


Manoel Messias Pereira

poeta, cronista e professor
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto-SP.




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