Crônica - O Sequestro do Embaixador Japonês - Manoel Messias Pereira

Nobuo  Okuchi
O Sequestro do Embaixador Japonês

Geralmente o conceito da história, é a trajetória dos seres humanos, é aquilo que existiu um tempo e noutro tempo deixou de existir é o fato verificado como eterna verdade, e ele não é uma coisa que passa mas que fica como lição, pra nossa cotidiana reflexão. 

Era dia 11 de março de 1970, quando o cônsul japonês no Brasil Sr.  Nobuo Okuchi, saiu de seu escritório as dezoito horas e seguia para a sua residência oficial, num carro Oldsmobile ano 70, portanto um carro grande e do ano. Neste momento no Brasil os carros eram pequenos e como o fusca dominava o mercado o carro do cônsul japonês chamava atenção.

O carro de Nobuo Okuchi ao entrar na rua Alagoas que contorna a praça Buenos Aires em São Paulo e devido a uma obra da adutora de água, que somente um carro era permitido passar por vez, quando num repente um fusca azul fecha a frente do carro de Nobuo Okuchi, que era dirigido pelo Senhor Hideraki Dói, que precisou pisar no freio e foi descer para reclamar. Quando observou um rapaz com uma metralhadora leve caminhando em sua direção e disse o carro quebrou. A impressão  de Sr. Dói era que tratava-se de um policial a paisana. Quando o rapaz apontou a arma para o embaixador e disse:
 -Não se mova
E pediu para que o motorista ficasse com o rosto encostado no volante e isto foi feito por parte de sr. Dói. Enquanto outros dois homens apareceram gritando em inglês "Get out! Quirck (Desça depressa).

O embaixador na hora advinhou era um sequestro e sabia que não era possível resistir ou fugir. Enquanto um intimava o motorista do Oldsmobile a ficar quieto no volante, Sr. Nobuo ia sendo levado atravessou a rua Bahia, e do outro lado da rua Alagoa estava um fusca vermelho.

O dia 11 de março de 1970, era um dia límpido em São Paulo, e isto era exatamente 18:30 horas, na rua pessoas comum transitavam iam as compras outras compravam sorvete de um sorveteiro. E Sr. Nobuo partia para o cativeiro.

O homem que dirigia o fusca começou a explicar para o Sr. Nobuo:
- Se o senhor não resistir nada de mal acontecerá com o senhor
E o cônsul respondeu:
- Não vou resistir, estou sem arma contra três pessoas armadas, agora abaixe essa arma, que apontas para mim.

Foi então que o sequestrador pediu a carteira de identidade emitida pelo Ministério do Exterior e o relógio de pulso. Vendaram os olhos do embaixador e colocaram -lhe um óculos escuro.

E o sequestrador começou a explicar:
- O sequestro aqui não tem dinheiro, mas o que estamos reivindicando é para nossa atividade política. Portanto as regras não é aquela usadas por bandidos. Somos da VPR Vanguarda Popular Revolucionária e temos um companheiro nissei chamado Mario e que foi preso após um acidente automobilístico ocorrido em 26 de fevereiro  na qual foi encontrado no seu carro armas e explosivos. E desde então ele está sendo torturado e  quando devido aos maus tratos feitos ele fica muito debilitado vai para o hospital das forças Armadas e depois disto volta pra policia e novamente sofre torturas. É um excelente companheiro e precisamo s resgatá-lo, mas também queremos ver solto mais quatro companheiros.
E ainda completou:
- Não temos nada contra o senhor, ou contra o seu país. Mas estamos na luta, para o resgate da democracia no Brasil. E Mario sabe que temos um local de treinamento de guerrilha e isto não pode ser revelado mesmo sobre torturas.

Para quem não sabe o VPR - Vanguarda Popular Revolucionária foi uma organização político militar criada por dissidentes da Polop -Politica Operária e ex-integrantes da MNR - Movimento Nacionalista Revolucionário em sua maioria de estudantes e ex-militares tinham como objetivo lutar contra o regime civíl e militar instalado no Brasil em abril de 1964 após o golpe que derrubou constitucionalmente o governo de João Goulart.

No cativeiro era um quarto muito espaçoso tipo living de quatro metros de largura  por seis de comprimento, a parede era de reboque grosso pintado de azul e verde e no centro havia uma mesa de madeira e uma cama metálica e todos andavam sem máscaras e muito apreensivos lendo algumas revistas e jornais.Depois de cinco dias vieram as libertações dos presos e o cônsul foi liberado.

Em 1990 em setembro o Sr. Nobuo Ockuchi, lança no Brasil pela editora Estação Liberdade, o livro "O Sequestro do Diplomata". O autor é formado em Ciências Políticas na Faculdade de Direito da Universidade Imperial, ingressou no Ministério de Negócios Estrangeiros, trabalhou na Suíça, Índia  Itália, no México e no Brasil foi cônsul e diplomata.

Entre os sequestradores estavam Ladslas Dowbor, que foi secretário na administração de São Paulo, é economista brasileiro nascido na França em 1941 de  Banyuls-sur Mer, professor de economia na pós graduação da Universidade  Pontifícia Católica de São Paulo, autor do livro Tecnologias do Conhecimento.  Os desafios da Educação. E Mario Japa é Chisuo Osawa da VPR era um guerrilheiro de confiança de Lamarca. E entre os outros envolvidos estavam Liszt Benjamin Vieira, Oswaldo soares, Mario de Freitas Gonçalves e o motorista era o Bacuri.

A libertação dos presos e a liberação deSr  Nobuo Ockuchi aconteceu num domingo calmo, em que poucas gente estava na rua. O embaixador entendeu a luta conviveu com os sequestradores, viu que entre eles também surgiu uma mulher que disseram ser a esposa, de um tal Peter mas o próprio embaixador não viu-a somente ouviu a sua voz. Deixado numa rua tiveram um aperto de mãos o embaixador foi pegar um táxi, com a sensação de ter convivido com todos aqueles jovens que estavam arriscando a vida, mas ninguém tinha sentimentos de ódio ou de rancor. Mas sim todos sentiam-se humanos, numa luta de respeito por suas humanidades.

É assim olhamos a história, com toda a tarefa que ela tem de proporcionar ao cotidiano, e temos uma lição que vai além da  a redução da investigação das ideias, das características das pessoas, e que põe a liberdade do pensar no asserto de que todas as verdades não se pode conhecer mas discuti-las e a limitarmos como lição de nossas eternas verdades, e não é uma coisa que passou, mas que permitem-nos continuar a discuti-la, na construção do nosso  conhecimento.

Manoel Messias Pereira

professor, cronista e poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil








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