Artigo - Chicão Xukurus, presente - Manoel Messias Pereira

(-23/03/1950  + 20/05/1998)

Chicão Xukurus,  presente

A história do Brasil, é construída na leitura de nossos dias, na contradição da existência, na paz em forma de consciência em que cada ser humano traça na sua luta de classe trava. Hoje se estivesse entre nós, Francisco de Assis Araujo o Chicão dos Xukurus estaria completando sessenta e oito anos, pois nasceu em 23/março/1950 mas no dia 20 de maio deste ano fará vinte anos de seu assassinato.

A comunidade dos Xukurus hoje habitam a serra Ororubá em Pesqueira em Pernambuco, uma cidade que foi fundada, com a mesma violência utilizada pelos povo europeus que foram invadindo a América, e tão bem revista nos chamados filmes de Far -west, quando o invasor, entra massacra o indígena o verdadeiro dono da terra, expulsá-os ou faz deles escravos. Vale lembrar que em 1958 ainda quando da atuação do serviço de Proteção ao Índio -SPI, os Xucurus foram tidos como o verdadeiros donos das terras. 

Quando de nossa Constituinte, que deu origem a Constituição Cidadã, de 1988. A nossa Lei Normativa que recebeu esse nome, vimos que Francisco de Assis de Araujo, foi um verdadeiro líder na sua comunidade. Casado com a índia dona Zenilda Maria Araujo, com quem teve sete filhos. E logo após a promulgação de nossa constituição ele foi eleito entre os indígenas em 1989 como o novo cacique Geral dos Xukurus, sendo num total de vinte e três aldeias.

Sua atuação como cacique, foi a de lutar contra a invasão de suas terras por posseiros e fazendeiros, e isto antes da demarcação da Funai, e que deveria estar em poder dos indígenas. Em 05 de novembro de 1990, os Xukurus ocuparam a área de Pedra d'água e por lá ficaram noventa dias até a negociação como a Funai. E esse tipo pressão feita pelo líder Chicão despertou o ódio, e a irá em fazendeiros e posseiros, que passaram a ameaçá-lo de morte.

A figura de Chicão, com sua luta, cresceu e ele passou a fazer parte da articulação do Povo Indígena do Nordeste, de Minas Gerais e, do Espírito Santo. Participou também de encontros internacionais como na França e na Suécia.

A área reivindicada pelos Xukurus, chegou a ser demarcada em 1995, mas em 1996 um mandato de segurança de posseiros e fazendeiros no Superior Tribunal de Justiça conseguiu anular a demarcação segundo o que foi trazido à público pelo assessor jurídico da Comissão Missionária Indigenista - o CIMI. A área reivindicada era de 27.555 hectares, porém a tribo com 7.500 pessoas hoje ocupa 2000 hectares e o restante foram invadidos por posseiros e hoje faz parte de 181 pequenas fazendas, segundo dados do CIMI.

E em 5 de março de 1998 as 9 horas pela manhã na cidade de Pesqueira, enquanto Chicão parava em frente a casa de sua irmã, num Jipe da Funai ou da tribo, chegou um homem alto, loiro com um jeito amigável, puxou conversa, que durou uns cinco minutos. Chicão dispensou a conversa e entrou no carro, quando o homem aproximou e desferiu seis tiros na qual dois foi no pescoço. E o líder indígena acabou falecendo.

O CIMI, acusou na época o presidente Fernando Henrique Cardoso, por omissão na responsabilidade de demarcar a terra, de fiscalizar e proteger as comunidades indígenas. Esse assassinato foi atendido pelo delegado Cledon Coelho. E em 4 de abril de 2002, a polícia prendeu Rivaldo Cavalcante de Siqueira um dos envolvidos no assassinato Chicão. Este criminoso conhecido como Riva de Alceu que foi preso pois foi um intermediário entre o mandante e seu executor, o pistoleiro José Libório, que recebeu R$10.000,00 (dez mil reais), para fazer o assassinato. O que sabemos hoje pela mídia é que José Libório também foi morto no Maranhão. A informações que autoridades policiais esconderam os mandantes, porém sabemos que um fazendeiro que estava implicado no caso Sr. José Cordeiro de Santana, acabou preso e suicidou-se na cela da Polícia federal em Pernambuco. Mas há outros mandantes, pois as principais lideranças dos Xukurus hoje já foram ameaçadas de mortes, como o cacique Marcos Ludson de Araujo, o vice cacique José Barbosa dos Santos, o pagé José  Rodrigues Bispo, a viuva de Francisco a senhora Zenilda Maria de Araujo, e o presidente da Associação dos Povos Xukurus  Antonio Pereira de Araujo.

O grupo Mundo Livre S.A. fez uma música em homenagem ao Cacique Chicão chamada "O Outro Mundo de Chicão Xukuru" :

Numa faixa de terra de 28 mil hectares
localizada no Agreste pernambucano,


habitam cerca de 8 mil seres da espécie humana.



Eles não querem vingança
Eles só querem justiça


Querem punição para os covardes assassinos

de seu bravo cacique Chicão



Eles não querem vingança
Eles só querem justiça,


justiça, justiça



Distribuídos por 23 aldeias
Permanecem resistindo após quase 500 anos de massacre e perseguições.


Reivindicando, nada menos, que o reconhecimento e a demarcação da terra sagrada que herdaram de seus ancestrais.



Ele não vai ser enterrado
Ele não vai ser sepultado


Ele vai ser plantado

para que dele nasçam novos guerreiros



As autoridades policiais tinham pleno conhecimento dos atentados e das ameaças.
Ainda assim, nada fizeram para evitar mais este crime, muito conveniente para os latifundiários da região.



"Nós não temos a terra como um objeto de especulação
A gente sabe que quando Deus criou a terra, Ele não criou para ninguém fazer da terra um comércio"



Muito conveniente para os latifundiários da região



Justiça...



Comenta-se que alguns deles têm parentesco com certos figurões da "República Branca", entre eles um, apelidado pelos federais de "Cacique Marcão".



"Então se nós dependêssemos unicamente dos parlamentares brasileiros, então, dos índios do Brasil, não existiria mais nenhum, o resto já tinha sido todo morto queimado, assim como queimaram Galdino"



Ele não vai ser enterrado
Ele não vai ser sepultado


Ele vai ser plantado

para que dele nasçam novos guerreiros



Ele vai ser plantado
assim como vivia


debaixo das vossas sombras

Para que de vós nasçam novos guerreiros.



E a nossa luta não para
E a nossa luta não para


E a nossa luta não para



"Vocês têm certeza, têm consciência de que eu sou ameaçado"


"de que eu sou ameaçado..."

Para eternizar a luta dos Xucurus para eternizar a memória de Francisco de Assis Araujo,  o grupo musical Terra livre escreveu e interpretou a canção. E assim os Xukurus, vão celebrar seus ritos, vão entoar seus cânticos, dedicados a sua deusa Tamain. E segue -se a luta. Pois enquanto luta-se brilha e reflete a esperança.


Manoel Messias Pereira

professor de História, poeta, cronista

Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
Membro da Associação Rio-pretense de Escritores-ARPE
Membro do Conselho do Patrimônio histórico 
Membro do Conselho Afro-brasileiro
Membro do Coletivo Minervino de Oliveira
Membro da Central de Mobilização Popular








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