AMANHECER INOCENTE
De madrugada, quando o sono se esvai
ando pelos corredores escuros da minha casa
batendo numa parede e na outra
como uma borboleta aflita que perdeu uma asa.
Depois, num canto qualquer caio na profundidade das coisas
e deixo meus olhos se prolongarem pela noite atemporal, onde lá atrás
bem lá atrás encontro comigo mesmo.
E choro todas as lágrimas do mundo por não conhecer o pensador
dos meus pensamentos, choro por saber pouco ou nada
de medos e remorsos antigos.
Mas quando a manhã com as suas unhas decididas
prende o sol nas cortinas da sala
eu aproveito o instante de descuido
da minha pior doença para amanhecer inocente.
Roseli Ferraz de Arruda
poetisa
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP
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