Crônica - A cigarra - Manoel Messias Pereira

A cigarra


No meu tempo de menino ouvia a fábula da cigarra e da formiga. E entendia que a história era assim, a formiga trabalhava sem parar, dia e noite, preparando a sua casa visando a chegada do inverno, enquanto que a cigarra cantava, cantava e até chamava a formiga, para algumas noitadas.

E de tanto cantar a cigarra coitada estourou a garganta, teve calo, câncer e depois morreu. Mas minha mãe disse que essa historia não era assim não. E ela informava que a cigarra que só cantava, e não guardou alimentos e quando chegou o inverno a formiga que trabalhou duro, tinha uma fartura. E a coitada da cigarra foi lá pra esmolar.

E nesta época não havia, bolsa família, nem bolsa escola, nem bolsa nada. E a coisa ficou feia para a cigarra.

Essa história por todos conhecida é atribuída a Esopo, que viveu no século VI a.C, um fabulista da região da Trácia atual Turquia. Porém os historiadores não tem documentos que provem a sua existência. Portanto essa fábula passa de boca em boca portanto ela passa a ser conhecida pela forma oral.

Essas fábulas foi atribuída a muitos aos monges bizantinos por ter um fundo moral bíblico, porém foi o monge   Planúbio um humanista que revisou grande parte das fábulas.

O escritor Jean de La Fontaine do século XVII, recontou essa fábula. e a moral da história é que todas as ações geram consequências.

Eu peço desculpa a minha mãe, como contadora de estorinhas, a Isopo e todos os seus seguidores, assim como a La Fontaine, essa fábula em que a Cigarra se põe humilhantemente pedindo atenção da Formiga, que vê, ela sem nada passando dificuldades é muito triste. Parece que há uma cena dramática, um sofrimento que inclusive traumatiza a criança, que observa que na solidão do individualismo da sociedade, há quem morre de fome.

E em contraponto a essa estoria, vejamos que hoje os cantores, cantam encantam, acumulam famas, fortunas, fãs. Enquanto quem trabalha no Brasil, com um salário horrível, com um atendimento governamental a sociedade menos favorecida de qualidade duvidosa. Em que a saúde, é feita sem prevenção, pessoas morrem nos postos de saúde e hospitais sem atendimentos. Uma educação feita pra criança não avançar, basta verificar as condições físicas das unidades escolares, muitas vezes sem portas, janelas, sem ventiladores, num amontoados de alunos numa sala, com professores humilhados pelos baixos salários e se reclamar o governo autoriza a policia jogar bombas de gás lacrimogêneo, balas de borrachas, sem nenhum respeito a esses seres humanos profissionais da educação.

Diante deste quadro revalido a minha ideia de que ao invés de fazer a Cigarra cantante sofrer com fome. Deixa ela cantar até se estourar, pelo menos o que fica após a morte é teoria da metafísica dos conceitos religiosos, como diria o aniversariante de hoje Dante Aligheri, que nasceu em 25/05/1265,ou seja vai pro Inferno, para o Purgatório ou para o Paraíso ou seja é a Divina Comédia.

Observando que no Brasil, muita gente que morreu o corpo desapareceu, principalmente no período da Ditadura Militar, quando a Operação Brother Sam, Condor e Operação Bandeirante e Polícia CODI/DOI, desgraçou inúmeras famílias mostrando ser um estado torturador,  a minha sugestão é que na fábula possa também a Cigarra ter o seu corpo desaparecido e com isto uma Comissão da Verdade, pra ver se ela não foi sequestrada, torturada e tida como desaparecida política. É atualizar bem as coisas pras crianças adolescentes e adultos.


Manoel Messias Pereira



cronista

Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto - SP. Brasil.



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