Crônica - Professores Categoria O - Manoel Messias Pereira


Professores Categoria "O"

Olhando, observando, sentindo, deglutindo, lembrando, o princípio da carreira de professor, fui ver a atribuição de aulas da Categoria O, como o Estado de São Paulo, classifica alguns professores que trabalham e são contratados na precariedade da existência. Para entender vou buscar uma abstração no mundo das idéias, como de uma torre de marfim onde se refugia o cientista. Ou ainda o cientista distraído desajeitado na vida cotidiana, mais essas são apenas figurações do campo das ideias e a vida das sensações, entre a teoria e a pratica. Ou parece que andamos de costas,  na direção do abismo. Tal qual é o processo de desumanização e nervosismo em que apresentam expostos aqueles pobres professores.

A atribuição aconteceu no dia 30 de janeiro de 2018,  sendo portanto usado o prédio da E E Monsenhor Gonçalves, em São José do Rio Preto-SP., vi no auditório olhos atentos de professores procurando o seu nome na lista afixada. Vi aqueles que observavam que em Linguagens como as aulas de portugueses, línguas e artes, já não haviam mais aulas. Víamos professores esperançosos que botavam a mão na cabeça como quem desejava arrancar os cabelos e nos olhos lágrimas. Quando estávamos lá, eu e um grupo de sindicalistas da "Unidade Sindical" bem intencionados oferecíamos uma água um café diziam, calma professores, vão acompanhando pelo site da diretoria, na próxima atribuição, pois as  aulas começará neste dia 1 de fevereiro e as coisas começaram ajeitar-se pois muitos professores afastam por problemas de saúde ou outros e as aulas reaparecem. Já os professores de exatas contavam nos dedos as horas. E os de ciências humanas, ficavam na clássica esperança histórica, pensando em rever todas as batalhas e ideias políticas em sala de aula com seus alunos. Mas com certeza todos estavam ansiosos.

Os professores do campo de exatas foram chamados e de quarenta professores no que pude apurar e que tinham contratos abertos, apenas quatro compareceram e não pegaram todas as aulas como desejavam a banca. Que precisou rever os procedimentos pois teve professor que pegou 8 ou 10 aulas e no mínimo deviam pegar 19 aulas, independente da distancia de uma escola para outra, o importante era que deveriam escolher um bloco  assim. Como a banca de exatas e ciências biológicas errou foi preciso ligar para esses professores para que eles retornassem a atribuição. 

Já em ciências humanas, alguns professores desceram e depois disto se passaram mais de três horas e ninguém mais sabia o que estava acontecendo, ninguém chamava mais ninguém, as aulas ninguém sabia onde estava, tudo parecia que um processo de conspiração estava se armando. E os professores das ciências humanas ansiosos, começaram a pedir para que nós sindicalistas fossem ver o que ocorria na obra da conspiração. Observei de princípio que tudo parecia imensamente harmonioso dentro do ambiente da atribuição. Solicitei que alguém fosse falar com o auditório pois estavam um clima tenso por lá. Pois não estavam mais chamando os professores para que eles pudessem ter a oportunidade de ter aulas atribuídas. Quando a pessoa responsável veio e disse que estavam ligando para todos os professores que tinham o Contrato aberto da Categoria O, pois o Estado não permite abrir mais contratos, se já há contratos abertos. E noutro caso é que os contratos que estivessem em abertos eles poderiam determinar o seu encerramento. Porém isto não estava escrito na Resolução de Atribuição de Aula, e há entendimentos de que esse procedimento não estaria correto. Diante disto a própria diretoria de ensino toma a cautela de não ser surpreendida com ações de contestação de sua atribuição. 

Essa explicação irritou e muito todos os outros professores, tendo observado uma professora  em estado de nervo que precisou tomar água com açúcar que nós oferecemos. Pois os professores que aguardavam no auditório via nisto um descaso, uma falta de respeito para com eles como profissionais da educação. E houve até uma professora que se disse perseguida pela diretoria pois teve um contrato rompido pois estava acamada no passado em 2013, quando foi oferecida duas aulas mas ela estava operada e não podia pegar e foi prejudicada por três anos após isto. E de repente chegou a advogada do Sindicato da Apeoesp, que disse que sentiu-se prejudicado, devia fazer um recurso e como nós tínhamos o impresso pronto auxiliamos aqueles professores fazendo isto. E após estes episódios espinhosos culturalmente iniciaram as chamadas dos professores quase 17 horas, eles todos que ali encontravam-se desde das 13 horas muitos dos quais até sem almoço.

Esse drama que ali assisti, remonta-me a essas figuras platônicas da realidade como o cientista que refugia na torre de marfim, entendendo que o caos destruirá todo o seu pensar e suas experiências e nem sei se essa é a ideia da abstração correta, mas pelo visto é o que imaginei. Por isto sinto desajeitado as vezes para trabalhar ou tratar destas questões cotidianas, que mais parece um samba do crioulo doido, que para quem não sabe é uma obra de sátira de Sergio Porto, que usava o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta e escreveu -a para o Teatro de revista e ficou famosa com os "Demônios da Garoa." E penso que é preciso relaxar, respirar inspirando e expirando. Do contrario estamos andando de costa na beira do precipício. A atribuição dos professores de categoria "O" pra mim foi de indignação. Senti -me triste, diante do papel que o educador tens de submeter no princípio de sua carreira. 


Manoel Messias Pereira

Professor, poeta, cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto-SP. Brasil



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