A máscara é usada e utilizada por todos nós, que construímos uma imagem social, para nos adaptarmos em determinados ambientes. Como uma metáfora do anonimato, impede o olhar social, que reconhece e põe cada um no seu lugar em si, na sua própria identidade. E assim vamos ter na vida desde a ficção até a realidade o uso da máscara. No carnaval é o suposto olhar cênico, a prática analítica, confessional, é a busca da satisfação por meio da ilusão, em que há uma certa liberdade renunciando-se da realidade.
Na fantasia, há personagens fictícios como nas histórias em quadrinho em que todos nós vimos o Zorro e, em diversas formas. Já na realidade ambientada no mesmo espaço geográfico porém com uma complexidade social, politica, e sociológica e temos na realidade o uso do lenço como do Subcomandante Marco. Que dá pra fazer um pequeno paralelo ou uma literatura comparada, entre a ficção e a realidade.
Na ficção ainda criança lia nos gibis e depois assisti na televisão, o personagem Zorro criado pelo escritor estado-unidense Johnston McCulley, criado em 1919, apresentando na imagem o alter-ego de Don Diego de La Vegas, cujo o enredo alicerça-se do período do século XIX, durante a era do domínio mexicano de 1821 a 1846, durante a colonização espanhola. Don Diego é um jovem aristocrático californiano que veio para defender os fracos e oprimidos, usando uma máscara e uma capa preta, empunhando uma espada e um cavalo preto que tens o nome de Tornado. Sem o disfarce é um ser acovardado diante de qualquer perigo. Em todas as suas ações deixa sempre uma assinatura com um "Z", mostrando a sua passagem. E Douglas Fairbank e Mary Pickford em sua lua de mel selecionaram imagens para seu novo estúdio "Unidet Artist", na qual adaptaram como o filme The Mark of Zorro" e foi um grande sucesso comercial.
Pegando uma carona vimos logo surgir do Texas a história do cavaleiro solitário, que no Brasil também recebeu o nome de Zorro, porém era diferente. era a história de Lone Ranger, ou seja um policial rural solitário remanescente da história de seis policiais que foram mortos por isto o Zorro e solitário e tem um amigo chamado de Tonto, que para nós no Brasil, a palavra tonto tem um ar pejorativo. e nesta história que foi criada por George Washington Trendle, historia desenvolvida por Frank Striker um escritor estado unidense. E diferentemente do Zorro de Culler o cavalo de Lone Ranger, que faz o mascarado Kid Roger é branco e chama-se Silver e no final da ação deste justiceiro ele dá um grito "Hiyo Silver Away", e o nome do cavalo de Tonto é Escoteiro. E esse Zorro não possui espada e sim a bala de prata e o tiro certeiro. E a identidade de Lone Ranger é John Reid.
Agora olhando pra realidade do México, vimos surgir não um mascarado de cavalo preto ou branco, como na ficção mas em verdade durante o século passado, no ano de 1994 vimos aparecer o Comandante Marco um dos líderes do Exército Zapatista de Libertação, que usava um lenço no rosto. E a sua primeira aparição pública foi em 01 de janeiro de 1995, quando entrou em vigor o Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos e o Canadá. que supostamente representaria a entrada do México numa modernização.A identidade do subcomandante era secreta, e ele era o porta-voz do Movimento Zapatista no sudoeste mexicano, do Exercito de Libertação Nacional -EZLN. E sua aparição ocorreu numa ofensiva que conquistaram seis municípios na época no Estado de Chiápas, go como La Margaritas, Altamirano, Rancho Novamente, Comitan, Ocosingo eOxchuc e Sam Cristobal exigindo a demarcação, terras, liberdade, pão e justiça para todos os indígenas.
A ideia do uso do nome Marco, foi o nome de um colega que morreu e sempre usavam o nome daqueles que morrem com a ideia pois o ser humano pode morrer porém a luta continua. Portanto é de todos. Mas a revelação do nome de Marco foi feita pelo governo mexicano em 9 de fevereiro de 1995, e foi identificado como Raphael Sebastion Guillen Vicente, ex- aluno de filosofia e letras da Universidade Nacional autonoma do México - (UNAM), e professor da Universidade Autonoma Metropolitana - UAM - México. filho de um comerciante espanhol com uma zapatista nascido em Tampico -Tamaulipas em 19 de junho de 1957. Como professor sua tese de filosofia e Educação:"A prático discurso e a prática pedagógica em livros didáticos para o primário". Além de professor também foi bailarino numa casa noturna de sua tia em Gaudalajara. Marco militou nas Forças de Libertação por vários anos e de princípio promoveu a ideologia maoista, mas os encontros com o movimento indígena transformar a sua práxis e seu discurso. O resultado mais próximo de sua teoria de início pós moderno e pos marxista. Mas as ideias declaradas no seus discursos estão relacionados com o tema e preocupação marxista revisionista de Antonio Gramsci muito popular na Universidade. Vale informar que o EZLN não era marxista e mais influenciado por Carlos Monsivais(escritor e jornalista mexicano) do que de Karl Marx, além de Emiliano Zapata que ele admirava, e tinha um profundo sentimento por Ernesto Chê Guevara. Marcos escreveu duzentas teses, e história e vinte e um livros e o mais famoso fala do "Mito da criação maia". Para ele o importante era ensinar a partir da diversidade e da tolerância, com um estilo refinado, irônico e romântico.
O escritor Enrique Krauze em seu livro "Redentores ideias e poder na América Latina", disse "Era como se o meteorito estivesse nos lançando mas não do espaço sideral, mas do passado" Ai apareceu Marco, trazendo toda a tradição indígena seu humor mordaz e por fim a prosa, assim o ex- aluno de Louis Althusser e admirador de Chê Guevara, vai surgir neste contexto com o lenço no rosto escondendo a sua identidade.Pois grande passo para a tal modernidade era sim olhar os erros do passado em que EZLN reivindicava como como demarcação, terra, pão, liberdade e justiça para todos os indígenas.
Ente 2016, portanto já n Século XXI, ele reaparece na disputa nas ruas contra a Reforma Educacional que suprime as conquistas sindicais, que levou a prisão líderes sindicais acusados de desviar fundos dos professores sindicalizados em Chiapas. voltou para encorajar a sociedade em seus estudos de comunicação e enredar a retórica política. e talvez reafirmando o que ele disse em 1995 "se eu pudesse mudar alguma coisa seria a mídia" depois disso ele que teve diante de toda a imprensa foi deixado no silêncio.
Com isto podemos entender que por trás da máscara tem uma imagem social, construída adaptada para determinados ambientes sociais. E o perigo é usar a nossa própria máscara. Quando há uma ficção há uma mudança no tempo como mostramos na obra de Zorro, tanto de McCuller, em que o Zorro usa a espada, ou no Loner Ranger, que usa a bala de prata. E a mudança vai além já tivemos no cinema estrelado por Antonio Bandeira, o Zorro sedutor latino ou como a nova visão estrelada por Goel Garcia Bernal no filme de Cuarón, que reinaugura a lenda do herói que luta pelo direito dos mais pobres.
Hoje também há uma forma de usar a máscara, nas festa de carnaval, nos festivais da carne, na sedução de homens e mulheres, a máscara é usada inclusive todos mostram em si, para esconder de uma realidade. O que predomina é a fantasia.
A convergência entre a ficção e a realidade é que em todos os casos há a luta pelos direitos daqueles que tens os seus direitos desrespeitados pelo Estado. Assim como na ficção em que o personagem faz a luta pelos mais pobres, ou pelo trabalho de Comandante Marcos que lutam, pela conquista dos indígenas, pelo processo educacional, e os direitos civis dos indígenas, como justiça, liberdade, terra, pão(comida) e a demarcação. E que volta penando no processo educacional. E o próprio comandante Marco dizia que "a mascara era para tirar o nome e esconder o rosto é para esconder do inimigo ou para desalojá-lo na escada de seu Mausoléu.
Manoel Messias Pereira
cronista, poeta
membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
membro da Associação Rio-pretense de Escritores -ARPE
São José do Rio Preto -SP.
Comentários
Postar um comentário