Nossa frágil juventude
Aprendi que o ser humano é um ser social, e que necessita de viver na sociedade. E que a célula fundamental desta sociedade é a família. Outra coisa é que essa família é sagrada. E que é preciso haver um processo de respeito entre pais e filhos, e isto incluem o abrigo do lar, a comida, as roupas que devem ser usadas pelas crianças, além dos bens éticos e morais, como respeitar o seu próximo, como ter uma conduta numa sala de casa de aula, de respeitar o momento sagrado da alimentação, seja do café da manhã do almoço e do jantar. Assim como todos devem ter acesso aos serviços públicos de saúde, educação, lazer, aos bens culturais. E essas são as premissas de um lar conservador, em que os pais ou seja mãe e pai tem trabalho, ou bens materiais como empresas, casa, carros. E que a família está bem representada na sociedade consumista, Vão para a igreja cristã, católica ou protestante, embora nem pratique nada daquilo que está escrito nas escrituras sagradas. E assim pensam os defensores do Estado constituídos em que não há um conflito social.
Mas para quem trabalha na escola pública não é isto que encontramos, e sim é um processo de desafios que a todos os instantes tentamos resolver. Os seres humanos portadores de idade inferior aos 18 anos e que chamamos de menoridade, são classificados omo adolescentes ou crianças. E toda a Prefeitura Municipal tem um serviço social e assim como um Conselho Municipal da criança e do Adolescente, que é formado por membros da sociedade, clubes de serviços entidades de classe, além de representante do poder público. E todas as cidades tem a estrutura de um Conselho Tutelar, eleito pela comunidade para auxiliar e proteger as crianças. E contam com assistências as escolas, as creches e seus conselheiros são eleitos pela comunidade. As crianças e os adolescentes nem sempre tem as estruturas acima mencionadas daquelas famílias em que os defensores do Estado não vê conflito. Porém grande parte destas crianças muitas vezes vivem com parentes, avós, e doutra vezes tem problemas de rejeição familiar, problemas psicológicos, outros psiquiátricos, transtornos de aprendizagens uns com laudos médicos outros não uns viciados outros não. Uns viciados com drogas, outros envolvidos com o tráficos e roubos. Outros vítimas de abusos sexuais e assédios. E todos sob o mesmo lema da ordem pré estabelecida. Uns recebendo bullings, outros sendo discriminados, vítima de preconceitos, de racismo.. E todas essas crianças creem num destino, num deus, num sagrado. E todos e todas essas pessoas mesmo sendo crianças tiveram ou pensam em ter um lar uma regularidade social.
O tratamento que eles recebem por parte das autoridades, civis e militares, nem sempre é de passividade. E muitos destas crianças são vítimas das próprias autoridades, que nem sempre sabem lidar com o problema. A ONU hoje em pleno 2018 tem uma campanha nas redes sociais e na imprensa que é uma campanha que faz parte da "Década dos Afrodescendentes 2015 a 2025, e que chama "Vidas Negras, pelo fim da violência da Juventude contra a juventude negra.
E essa política da Organização das Nações Unidas, faz parte da ação que representa a necessidade de um grupo distinto cujo os direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos no Brasil. E quando observamos o Secretario das Nações Unidas Ban Ki Mon, ele chegou a afirmar que "os afros descendentes são os mais afetados pelo racismo e tem os seus direitos básicos negados como acesso a serviços de saúde de qualidade e educação".
Em 15 de março de 2016, foi publicado o relatório da especialista da ONU sobre a minoria , Rita Izsak que faz um alerta de que 23 mil jovens negros morrem por ano, muito das quais são vítimas de violência pelo Estado. O que evidencia um genocídio da juventude negra. E para a especialista a polícia militar deveria ser abolida, bem como a categoria do "auto de resistência" considerado em escudo de impunidade. A relatora destacou que, no Brasil, os negros respondem por 75% da população carcerária do mundo e por 70,8% dos 16,2 milhões de brasileiros vivendo na pobreza. Portanto a violência tem clara dimensão social.
No Estado de São Paulo as mortes de afrodescendentes em decorrência de ações policiais são três vezes mais numerosa do que os registrados pela população branca. No Rio de Janeiro quase 80% das vítimas de homicídios associando a intervenção da policia são negros. desse contingente de afrodescendentes mortos 75% eram jovens de 15 a 29 anos.
Portanto o que podemos observar e pensar é que há conflitos permanentes nesta sociedade capitalista de enormes contradições, pois esse é um sistema de competições, e na nossa observação há lutas de classe plenamente. Todos esses jovens sujeitos ao descumprimentos dos direitos humanos por parte do Estado, são filhos de trabalhadores, e posso com toda a certeza afirmar que nunca vi busca e o serviço de Segurança do Estado dar batida em condomínios fechados e de luxo, enquadrando a juventude branca. E isto deixando bem claro que a marginalidade existe em todos os espaços urbanos, porém há um corporativismo da classe dominante, que tens ações da presença do Estado de maneira muito diferente das comunidades das periferias donde moram a classe trabalhadora. E o Estado com todo o aparato burocrático mostra-se em relação as crianças e adolescentes carentes ou em risco social, ineficiente em suas ações . E por outro lado o encarceramento da juventude é evidente escancara essa ineficácia. Do contrário o Estado poderia sim utilizar de seu positivismo negando o conflito social. Mas se negar ele mente descaradamente. E diante deste quadro até reporto-me ao idealismo religioso, em que a própria miséria religiosa constitui no mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra essa miséria real. E ficam os suspiros das criaturas oprimidas no ânimo sem coração e alma de situação sem alma. E em resumo vivemos um darwinismo social radical em que criamos aviões, usinas nucleares, elétricas, computadores, robótica, automação, metralhadoras, mas infelizmente temos dificuldades de cuidar de nossa juventude. E é esse o nosso maior desafio.
Manoel Messias Pereira
professor, cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP.Brasil

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