crônica -Treze de maio - Manoel Messias Pereira




Treze de maio
Falar sobre o treze de maio é percorrer a história, é entender o que foi ensinado nos bancos escolares, é entender o que foi falado em casa com a nossa família é discutir o nosso olhar sobre a realidade e o olhar do meu próximo. São lembranças pra uma grande reflexão.
No início dos anos 80, um artigo de jornal assinado pelo professor e ativista Abdias do Nascimento dizia "13 de maio" dia da grande mentira cívica. Esse artigo publicado na Folha de São Paulo, tomou a minha vida de enorme importância, pois eu que sempre vivi estudando na Escola pública, e recebendo a informação de que os negros foram escravos e que eram portadores de uma história de apenas sofrimento e humilhação, vi neste artigo um contraponto que retirava esse mal estar educacional que nada resolvia somente fazia com que os poucos meninos afros descendentes que estivesse estudando pudesse respirar sem ter que conviver com as falácias da história e dos Estudos Sociais da matéria de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil.
Imediatamente enviei ao Sr. Abdias uma correspondência falando sobre a grande verdade, e recebi as informações sobre todo o seu trabalho e a necessidade de implementar com mais rigor o Movimento Negro, em que pudéssemos contar com galhardia, que os negros desde 1530 quando por aqui chegou veio sim com um propósito que era trabalhar, e sustentou esse país, dando o sangue e a sua vida. Foi tragicamente submetido ao trabalho forçado, pelos detentores do poder. E teve muita luta pra sair da condição de submissão impostas no Brasil assim como em outras partes da América Latina.
Em 2006 na revista "Nossa História" um artigo intitulado "O lado rebelde da Princesa Isabel " escrito por Priscila Leal, consta que a princesa Isabel Christina Leopoldina Augusta Michaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Orleans e Bragança (1846 a 1921), informava que o seu pai D. Pedro II deixou fundos doados para serem usados como indenizações aos ex-escravos, que a monarquia usaria para assentar os negros na terra. Era um projeto da monarquia. Porém esse documento com essas informações que foi para o Visconde de Mauá. Carta essa datada de 11 de agosto de 1889, portanto três meses dos insurgentes contra a república os militares brasileiros que desejava ter aumentos e que organiza o Golpe contra o Imperador proclamando a República.
O que sabemos que é que alguns historiadores apresenta a princesa com um caráter aguerrido próxima de André Rebouças de Joaquim Nabuco, e que tinha preocupações com as questões relativas a emancipação dos negros, que falava da emancipação da mulher e da reforma agrária . Porém na maioria das vezes encontramos na história como mera figuração que assinou a Lei 3.353. E o sabido que quarenta e cinco dias após a abolição tivemos a resolução 122 que estabelece que todo o liberto ficava proibido de trabalhar e aquele que desse trabalho aos libertos sofriam punições que ia de multa até prisões.
E as leis ainda seguiram, com a utilização de expedientes desfavoráveis ao povos afros descendentes como proibição de morar, de alugar cômodos, de instalar em hotéis, em permanecer muito tempo em estabelecimentos comerciais, em falar alto em público, em entrar em determinadas igrejas, em ficar parado em esquinas em andar muito rápido. Ou seja por lei quem governava estabeleceu ao ser humano negro o processo de submissão, de preconceitos, discriminações e até ódio raciais como ainda hoje de forma velada encontra-se na sociedade brasileira.
Acompanhado a essa peça aberrativa da história brasileira, temos legislação como a primeira Constituição que proibia o ser humano negro de aprendera a ler e a escrever. Vimos nos livros escolares períodos que mostram que o negro na época de D. Pedro II, teve momento pra ser reconhecido como ser humano mas não como cidadão, que podia trabalhar como escravo durante o dia e estudar somente á noite e que muitas escolas não receberia filho de ex-escravos. A verdade que foram tempos de infernos, que foram sendo apagados com o chamado Movimento Negro.
Portanto essa grande verdade, é um momento de luta permanente, que não esgota numa pincelada sobre a realidade, e sim é preciso alimentar uma outra superestrutura ideológica, capaz de realçar o papel do ser humano como protagonista de sua história e da construção de um mundo compartilhado, no respeito, na solidariedade entre os seres da mesma espécie humana, na fraternidade, na universalidade das expressões e no internacionalismo das condições sociais. Lembrar o 13 de maio é lembrar que refletir é preciso, mas transformar a realidade atendendo todo as as necessidades básicas e necessárias aos todos os seres humanos independente de suas condições sociais evidente é preciso. E num capitalismo selvagem a que estamos exposto e submetidos no Brasil, digamos que é impossível.
Manoel Messias Pereira
cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP.

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