Crônica - Minha Lembrança Materna - Manoel Messias Pereira


Minha lembrança Materna

Estamos em pleno mês de maio, alguns dizem ser mês de Maria, esses são os católicos, outros dizem ser o mês das mães. A questão é que no segundo domingo de maio comemora-se o "Dia das mães", uma data comercial, talvez tão importante quando o dia do Natal. E todos os seres humanos procuram neste dia presentear a sua progenitoras, e outros agradecerem pela mulher que deu guarita e fez o papel de mãe independente de ser ou não mãe como muitas tias, avós ou vizinhas ou apenas conhecidas.

Este é um mês de ternura, de muita compras. Ou talvez apenas de líricas lembranças. Recordo uma vez que escrevi que no meu entendimento Deus fez um mundo com tantos detalhes que acreditava ser Deus uma Mulher. Ou como num filme que assisti que chamava-se "Dogma", que era dirigido por Kelvin Smith, era uma linda mulher mas que falava com voz de um homem. O importante que eu também tive uma mãe e que exatamente há dois anos partiu para o Orun.

De minha mãe observei a tal ideia de Deus, como escreveu Bento Spinosa "Deus nas quais seguem coisas infinitas em infinitos modos, que não pode ser senão únicos", e com ela recordo de uma infância sempre cheia de chuvas. Recordo de uma casa que goteira era bem natural, uma escada de madeira em que meu pai sempre ficava deitado quando bêbado. Lembro das canequinha colocadas nas goteiras e ela falava que era como uma música, vinda do céu. Ou seja que havia uma tristeza uma violência neste quadro evidente, mas que a ternura de um olhar de mãe e a doçura de um canto de mulher sonoramente num soprano divino, pra que eu me encantasse.

E isto me faz novamente lembrar de Spinosa que escreveu "todo os modos pelas quais um corpo qualquer é afetado por outro corpo segue-se na natureza do corpo afetado ao mesmo tempo da natureza do corpo que afeta." Frase que entendi ao meu modo como se havia ternura em todos os gestos de mãe, essa ternura encarrega-me em tornar-me melhor, aprazivelmente, e assim pude também compartilhar de exemplos que com certeza levou a essa mãe a ter -me um filho que orgulhava-a. Nunca tive dinheiro para bancar o capitalista e fazer a felicidade com um presente, por isto tentei eu próprio me fazer presente, e ser além de um filho um cúmplice do modo pobre de viver.
Como se humilde fizéssemos felizes.

E talvez nesta leitura da felicidade, eu tenha ficado como disse Santo Agostinho no seu livro confissões "primeiro pecado da infância, no liminar da escola moral educacional em que demais mais cometem a impropriedade da linguagem do que acautela-se da inveja que eu sentiria." Eu não conhecia uma casa melhor do que a minha. Tinha um fogão de lenha todo vermelho sobre eles as panelas de ferro, chaleira que minha mãe passava o café pela manhã uma mesa e uns banquinhos que sentavam na hora da comida. Os pratos primeiros eram de ferragato uma estupidez ia assim descascando e saindo aquela desgracinhas e nós tínhamos medo de que aquilo em nosso corpo pudesse dar uma doença que não sabíamos onde parar. Minha mãe então preparava pratos de lata de doce de marmelada, e os copos não existia em casa era caneca de lata de óleo a patroa, pois  na minha cidade inclusive tinha uma empresa que chamava Swift, que refinava esses óleos de caroço de algodão e de amendoim, eram duas as marcas A patroa e a Dona.

Quando eu tinha cinco anos meu pai, separou de minha mãe e sumiu, Sem antes de tido uma briga. Foi no dia que minha irmã machucou o pé com um puxador de gaveta, na qual aquela merda de parafuso entrou no pé da menina, que tinha apenas 2 aninhos e ela chorou e isto irritou o meu pai. Que disse aquelas bobagens de machistas, que ele como homem nunca havia chorado. A questão é que ele tinha curtido todas as suas insanidades entre bebidas, putas etc e naquele momento da história, não suportava ter choro nem dela e nem de ninguém queria apenas dormir como os porcos jogados num canto do chiqueiro.

Fomos morar somente eu minha mãe e as duas irmãzinhas, mas todo o processo de desenvolvimento é um encadeamento. Eramos quatro, uma mulher e três crianças, uma coletividade à soma aritmética das forças e muito além das capacidades individuais, na qualidade  de um desenvolvimento social em que juntos organizamos uma forma de trabalho de casa e de não gastar o que não tínhamos e minha mãe partiu para fazer trabalho como lavar roupas, passar, limpar casa dos burgueses, fazer cabelos, das madames . Até ficar doente e acabar -se encontrando num centro de umbanda.

Ela ensinou-nos a viver plenamente no espaço de sonho que tínhamos, e repetia sempre mais vale a fé no corpo do que todas as ilusão de ter do mundo. Podemos não ter hoje, amanhã conseguiremos, faça o sinal da cruz, coloque o sal na boca, tome um copo da água e um sorriso no rosto e conquiste o mundo. Sabia ela que a pobreza e avareza por quais o Brasil sempre passou faz parte do contexto governamental do sistema capitalista. Do contrário outros outros esperam um exterminador para por fim a dor de viver e ao dom de sofrer. E este pode ser o anjo da morte. Nunca esperávamos isso.

A morte vem mesmo quando a gente não espera. E hoje minha mãe não está aqui. Partiu para o além, ou partiu para o Orun. Deixou-me aqui com o olhar no céu, e entendendo a ternura da terra ao receber o seu corpo. E a minha inteligência infinita como escreveu Spinosa compreende além dos atributos de Deus e sua afeção. Oras Deus único, Uma ideia que se segue infinita em infinitos modos não pode ser senão único. E dentro de mim permaneço ainda mesmo com o passar dos anos a tristeza por sua ausência chama-se desejo frustrado. Que nasce da própria tristeza, ou dos momentos de alegrias que oras foram proporcionados, e na imagem do pensamento vai desconfigurando. Ou nasce do amor do amor. Ou talvez do ódio de não existir uma presença física de todos permanentemente. 

A verdade é que ainda vejo chuvas em meus sonhos como elas mais entre águas, lágrimas relâmpagos, sempre acordo quando uma porta  que se abre e ela minha mãe com um sorriso amigo diz "vem para cá, aquiete-se." Levanto e sei que tenho é hora e tenho que trabalhar pois a vida continua. 


Manoel Messias Pereira

poeta, cronista, professor
Membro da academia de Letras do Brasil - ALB
São Jose do Rio Preto -SP. Brasil


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