Crônica - O último desejo - Manoel Messias Pereira


O último desejo
Vejo a vida como um espaço pra sonhar, por desejar, por acreditar. Num sonho que não nasce apenas de dormir, mas do refletir, no viver. E assim construímos perspectivas, passos de uma caminhada de ternura, de paz, em busca de algo maior como a felicidade. E muitas de nossas ações nasce do interpretar de como pisar no chão e de como chegar ao céu sem precisar morrer. Ou seja a razão e a emoção quem mantem em nós um olhar científico e um olhar poético.

Mas os sonhos como uma vez escreveu Carlos Peres, no seu livro "do gozo criador" é sempre um labirinto ou com espelhos salvos.Pensar em espelho também é pensar num sonho de horror, dizem que os brasileiros não gostam de olhar nos espelhos. A realidade reflete-se, muito triste, muito dolorida.

Mas a dor também sera uma estética? Essa é uma pergunta que faço amim e a outras pessoas. Pois os nossos sonhos desejam raios de felicidade, de alegria como dos pássaros, que se perdem no azul e na imensidão do céu, pelo menos poeticamente.

A felicidade é uma arma quente como escreveu o compositor brasileiro Belchior? é preciso sempre buscar essa estética de felicidade, e penso que ela aparecerá eterna na leitura dos olhares, na leituras dos dedos, no desejo do beijar e no sentir o gosto do beijo na boca, no roçar de línguas. como diria Allen Ginsberg  quando escreve o uivo "O peso do mundo é o amor, sob o fardo da solidão, sob o fardo da insatisfação, nenhum descanso sem amor, nenhum sono sem sonhos de amor, o último desejo é o amor, que não pode ser contido ou negado. Penso como ele, mas penso que esse amor as vezes se reflete como a recitação de um chantre de sinagoga, sendo levado pelos ventos o ar em movimento a muitos outros seres humanos.

Mas se os sonhos como escreveu Carlos Peres é sempre o labirinto. confesso que perdemos as vezes na visibilidade deste teatro de camuflagens sociais.E a busca de nossa felicidade, se depara com uma realidade nua, crua, que ilustram as telas de nossas salas cinematográficas, e precisando refletir sobre tudo isto. Essa realidade que não tem o beijo e o final feliz do cinema "americano", como chamamos a industria estado unidense cinematográfica. O filme no Brasil como "Tropa de Elite", há crianças metralhadas pelo Estado, a invasões de residencias de pessoas que possuem apenas os corpos colhidos com trapos e abandonos visíveis pelo Estado brasileiro. Olhar e ver barracos de madeiras e plásticos ou sejas residências inadequadas nos dá vontade chorar. E as vezes choro observando a naturalidade, como essa desgraça está incorporada na sociedade brasileira, observando a capital paulista. Uma cidade rica, pujante política e economicamente, mas que nos brinda com a tristeza de olhar pessoas dormindo em papelão pelas vias públicas e outros seres que alguns acreditam serem da mesma espécie, ou semelhança de Deus que todos adoram ou adornam, por fogos em pessoas que vivem na margem desta sociedade. E na realidade o que vemos no filme já parte das denuncias sofriadas na ONU, sobre a nossa sociedade brasileira, que exterminam negros, que mantem a intolerância religiosa com muita violência e dia 17 de março de 2017, o jornal Diário da Região numa reportagem de Gabriel Vital trouxe a noticia de que vândalos como é comumente chamados no Brasil, pessoas desqualificadas "depredam centro de Candomblé", mas trata sim do centro Caboclo Sete Flecha da mãe de santo Sonia Medeiros, e o que ocorreu foi uma violação do patrimônio cultural afro-brasileiro.

E essa talvez seja a contradição capitalista, de onde há a riqueza, há a  opulência, há também o falso pudor moralista do sistema capitalista, que não consegue ver ou que veja mas já faz parte da imagem de horror que compõe o próprio sistema. E nesse contexto é mais fácil proibir uma obra de arte num chamado processo visual de obscenidade, do que ter a recepção crítica de estabelecer e tentar valer da beleza estética, sem machucar pessoas, sem repressões gratuitas, que é comum quando alguém que não tem onde morar, aconchega-se num canto qualquer da cidade com a sua incapacidade econômica e financeira, num processo de desprezo social no sistema capitalista excludente em que vivemos e choramos como formas de nossas expressões. E nisto talvez choramos por ver o Brasil como uma leitura triste de uma catástrofe de uma tragédia anunciada, num sistema que desgraça o ser humano trabalhador mas que este sabe que vai virar suco, mas vai votando, e desgraçando quem te promete o céu e põe numa maquina de moer carne, como se fosse um bom gestor, mas é o politico que defende o capital politicamente correto. Empresarial.

E diante disto tudo, as pessoas passam a crer, que se a felicidade não encontra ao seu alcance, elas vão tentar olhar o céu, vão fixar-se nas preces, nas leituras bíblicas e aí, descobre que no Novo testamento de João há também registro de promessas e ameaças, há visões absurdas e monstruosas, como em Apocalipse 2.16 "Arrepende-te, pois quando não , em breve virei a ti e contra eles batalharei com a espada da minha boca" Esse Deus que ameaça através de Oséia, Joel, Amos, Obadia, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias no Velho testamento. Esse Deus que em Ezequiel 8.18 comanda a chacina em Jerusalém conforme se lê, embora essas traduções já é outra violência, estabelecida nos processos religiosos, "...condena a morte 25 homens, entre eles Jazânias filho de Azur e Pelatias filho de Benaia, príncipe de Ezequiel expulsa da terra os habitantes de Israel E em Ezequiel 14.2 "tenta justificar a sua justiça de castigar com a espada com a fome, as nocivas alimárias as pestes. Em Ezequiel 15.7 chama Jerusalém de prostituta e em 16.15 consta "mas confiaste na tua formosura e te corrompestes por causa de sua fama; prostituías-te a todo que passava para seres sua" E assim segue num livro sagrado de tantas violências. Talvez aí esta essa analogia da opulência e o convívio das desgraças um lado a lado na mesma e harmonia sagrada e profana ao mesmo tempo.

É assim creio que quando um cientista se esforça pra encontrar a luz num núcleo de um problema, ele vai apostando em chegar a té a luz iluminado pela verdade, mesmo contemplando a natureza alienada transformada em domínio cultural. Até penso que logo vai aparecer um canalha iluminado votado, aprovado pela população para colocar a miséria como patrimônio da humanidade. Enquanto isto o artista diferentemente do cientista necessita da escuridão que se abre mais atenta no saber, par  no espaço de ausência da luz criar o brilho das estrelas, e permitir a ciência de alimentar-se desta ilusão positivista de dominar o desconhecido através de sua razão.

Sabemos que na busca de uma propensa felicidade, as pessoas estão sujeitas, a indignação, ao remorsos, ao ódio, a matar, a morrer. definir-se como opressão interna, e essa vontade que está na terra, tragada pela paz em guerra que se encerra em cada momento noticiado pela mídia.

 Enquanto a política, as ideologias religiosas, se perdem em violências, em guerras santas, eu sigo olhar de Mick Jagger, de Ezra Pound, de Bob Dylan, Ed Sanders e suas poesias reveladoras, entre guitarras e cantos. Eu quero continuar sem nenhum descanso a buscar o amor, como último desejo como escreveu Allen Ginsberg pois  a vida é como um espaço pra sonhar, por desejar, por acreditar. Num sonho que não nasce apenas de dormir, mas do refletir, no viver. E assim construímos perspectivas, passos de uma caminhada de ternura, de paz, em busca de algo maior como a felicidade. E muitas de nossas ações nasce do interpretar de como pisar no chão e de como chegar ao céu sem precisar morrer. E a razão e a emoção quem mantem em nós  um olhar científico e um olhar poético.

Manoel Messias Pereira

poeta, professor e cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP. 





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